Homem não chora...

Uma frase que fazia tempo que eu não ouvia: "homem não chora". Com o nascimento do meu sobrinho e agora ele com seus 2 anos e 6 meses na sua esperteza de querer manipular e ganhar tudo usa da artimanha do chorar. Em certos contextos acho natural que seja através do choro que ele solicite alguma coisa ou melhor, quando não está contente com algo, que ele possa chorar, principalmente se for dor. Entretanto o que mais escuto da minha família é: "Que feio! homem não chora!". Elimina qualquer possibilidade de externalizar seus sentimentos da mesma forma quando ele está feliz e sorri, só que daí ele pode sorrir, mas chorar não! A sociedade ocidental impõe para o homem a condição de um ser racional, ou seja, desprovido de medo, vaidade ou qualquer sentimento que posso externalizar e caracterizá-lo como tal. Um exemplo simples de um adolescente do sexo masculino relatar que admira ou acha bonito a letra de um amigo. Com certeza as pessoas próximas dele vão zombar ou caçoar dele. Preconceito embutido nas pessoas não permite que meninos quando pequenos possam brincar de bonecas até no intuito de aprender como lidar com outro "ser humano", cuidar, tratar, dar carinho e atenção e não simplesmente arremessá-la pela janela quando algo não está bom. Pois é, toco num ponto que é extremamente delicado. A mídia tem veiculado sobre o caso de uma menina que foi supostamente assassinada pelos pais (pai e madastra), houve uma comoção nacional por se tratar de uma menina de 5 anos de idade, esperta, bonita e cativante. As pessoas estão reagindo de forma negativa contra esse pai porque justamente o comportamento e sentimento dele é de total ou parcial falta de sentimento. Agora me diz como pode um homem externalizar seus sentimentos se sempre foi dito para ele que homem não brinca de boneca, homem não pode brincar de casinha e homem não pode chorar. Obstante a isso, deve ser macho, dar umas porradas e agarrar todas as meninas que encontrar. De antemão já digo que sou imparcial quanto a história dessa familia, mas acredito que uma avaliação psiquiatra e psicológica ajudariam no laudo pericial para detectar se há algum tipo de transtorno mental ou comportamental e na área forense há tem quesitos suficientes para espaldar o caso. Uma vez eu li uma reportagem na Revista da Folha sobre o comportamento diferenciado no tratamento de meninos e meninas e dizia justamente dessa questão que é saber lidar com os sentimentos do filho seja ele ou ela. Enquanto ensinamos a menina ter certo tipo de comportamento, ensinamos o menino a ter outro tipo de comportamento. Uma vizinha tem um neto que adora brincar com brinquedos da prima, a mãe entra em desespero por não acreditar no que ela vê. Qual o problema dele brincar com os brinquedos de meninas e vice-versa? Para o desenvolvimento da personalidade é importante que ambos brinquem dos mais variados "sentimentos" e dentro disso construi uma personalidade que possibilite na fase adulta segurar um bebê, dar carinho, trocar fralda, saber dar comida e chorar nos momentos de comoção e sorrir nos momentos de alegria. Com isso permite ao ser humano fazer suas escolhas ponderado nos sentimentos introspectivos que abarcam toda a estrutura da personalidade e do ser social mostrando que é possível ser "homem", mas nunca esconder de si próprio os seus sentimentos. Senão do que adianta ensinar nossos meninos a não chorar hoje e exigir amanhã deles que tenham compaixão ou aprendam a respeitar a namorada, a mulher, a mãe ou outrém, se isto não é (ou foi) permitido?